O título não é meu. O texto também não. Ambos me conquistaram. Logo que
li me encantei. Pedi permissão e obtive para postar no meu blog. Trata-se do
artigo publicado no Jornal O Povo de ontem, escrito por Regina Ribeiro, Editora das Edições Demócrito Rocha. Procedo dessa
forma, toda vez que me deparo com matéria que me toca a alma por enaltecer a
dignidade do ser humano. O presente artigo faz colocações sérias e equilibradas.
Passa pelo cinema, permeia pela literatura e desemboca no cotidiano da vida.
Desperta um forte apelo à reflexão sobre o que acontece em nossa volta. Eis o
texto na íntegra. Bom proveito.
Caso
você ainda não tenha assistido ao filme Sombras da Noite, de Tim Burton, seria
algo interessante de fazer neste fim de semana. A história é simples e põe na
tela um vampiro, personagem tão apreciado nos últimos anos e que se tornou
best-seller com a saga Crepúsculo que dispensa comentário. O vampiro Barnabas
Collins (Johnny Depp) é disparado muito, mas muito mais interessante. A trama
começa 196 anos antes, quando um rapaz filho de família tradicional e rica se
transforma na paixão exagerada de Angelique, uma bruxa. Barnabas encontra seu
verdadeiro amor em Josette.
Angelique
decide se vingar de Barnabas matando Josette e transformando-o num vampiro
acorrentado num túmulo. Em dois séculos, a família Collins perde riqueza,
prestígio, sobrando apenas a velha mansão que mais parece uma catedral gótica
mal-assombrada.
A
história começa pra valer assim que Barnabas é reencontrado por trabalhadores
durante umas escavações. O vampiro sedento retoma à vida no ano de 1972 e vai
em busca do que restou da família. A partir daí, a crítica mal humorada que me
perdoe, o filme se transforma em pura diversão. A ambientação da década de
1970, com seus personagens e valores, é o estranho mundo onde Barnabas tentará
se equilibrar. A família – ou que sobrou dela - é um perfeito desastre e exibe
aqueles ingredientes da nobreza falida: todos têm apego ao dinheiro e ao que restou
da fase áurea, mas há em perspectiva o desonesto por opção, os sobrinhos no
limite da falta de juízo, a psiquiatra louca e uma espécie de matriarca que
tenta juntar as pontas do tempo.
Burton
parece gostar das sombras. Elas sempre refletem o real, mas deformando, criando
ilusões e brechas para a mais completa irrealidade. Afinal de contas, o mundo
da década de 1970 era estranho até mesmo para quem nele vivia. E Barnabas é
semelhante a qualquer um que não entende, em qualquer época da vida, o que está
acontecendo em sua volta. Que tem em comum aquela sensação de estranheza, de
sobressalto quando se depara com situações improváveis. Por exemplo: que mundo
tão doido é este onde um morador de rua encontra dinheiro e devolve e, no dia
seguinte, um senador da República, que se deixa chafurdar no submundo do
dinheiro ganho a qualquer custo, é cassado? Burton fez, sem dúvida, um filme
ótimo. E hoje é sexta.